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    Vou começar confessando uma coisa: eu era daqueles que achava energia solar uma enganação. Sério mesmo. “Como assim painel no telhado vai zerar minha conta de luz? Isso é coisa de filme americano.”

    Minha opinião mudou radicalmente depois de uma situação constrangedora numa festa de família.

    Era aniversário da minha sogra, aquela confraternização onde todo mundo fica contando vantagem. Meu cunhado começou a falar da casa nova dele, e quando chegou na parte da energia solar, eu não consegui segurar: “Ah, para com isso, mano. Essa história de conta zerada é conversa pra vender painel caro.”

    Ele riu, pegou o celular e me mostrou a conta de energia. R$ 23 reais. Vinte e três! Casa de 180 metros quadrados, piscina com bomba, ar condicionado em três quartos. Eu fiquei com cara de tacho.

    “Quer ver o app da empresa?”, ele perguntou. Abriu na minha frente: sistema gerando 987 kWh no mês, consumo da casa 612 kWh. Sobrou energia e ainda virou crédito.

    Saí daquela festa com o ego ferido e uma curiosidade danada.

    A Pesquisa Que Mudou Minha Vida

    Na segunda-feira seguinte, em vez de trabalhar direito, passei o dia pesquisando sobre energia solar. YouTube, fóruns, sites especializados, conversei até com um professor de engenharia elétrica que conheço.

    As informações que encontrei me deixaram com raiva. Raiva de mim mesmo por ter sido tão ignorante por tanto tempo.

    Descobri que a tecnologia solar não é nova. Existe há décadas e é amplamente usada no mundo todo. No Brasil, só não decolou antes por causa de burocracia e falta de incentivo. Mas desde 2012, com as novas regras da Aneel, virou um negócio da China.

    Fui atrás de números reais. Procurei pessoas que tinham instalado painéis há mais tempo para saber a verdade nua e crua. Conversei com dona Maria, uma aposentada que mora sozinha numa casa pequena. Sistema de 2kW instalado em 2018. Conta de energia de R$ 450 virou R$ 30.

    Falei com Roberto, dono de uma oficina mecânica. Sistema maior, 15kW. Gastava R$ 2.800 por mês com energia. Hoje gasta R$ 180. A economia paga dois funcionários.

    Os números eram reais demais para ignorar.

    O Que Ninguém Te Explica Direito

    Depois de muito estudar, percebi que as empresas de energia solar vendem o produto de forma meio confusa. Elas focam no “conta zero” e esquecem de explicar como a coisa realmente funciona.

    Vou explicar do jeito simples que entendi:

    Durante o dia, os painéis geram energia. Se você gera mais do que consome, o excesso vai para a rede elétrica e vira crédito. À noite, quando os painéis não funcionam, você usa energia da rede normalmente. No final do mês, a empresa de energia faz a conta: energia consumida menos energia fornecida.

    Se você forneceu mais do que consumiu, sobra crédito para o próximo mês. Se consumiu mais do que forneceu, paga a diferença. Simples assim.

    Mas tem pegadinhas que as empresas não costumam mencionar.

    Primeira: você sempre paga uma taxa mínima para a companhia elétrica. É o “custo de disponibilidade”. Para residência monofásica são uns R$ 30, bifásica R$ 50, trifásica R$ 100. Ou seja, conta “zero” mesmo, nunca vai ser.

    Segunda: o sistema só funciona se tiver energia da rede. Se faltar luz no bairro, seus painéis param de funcionar também, por segurança. Para ter energia durante apagões, precisa de bateria – que é caro pra caramba.

    Terceira: a economia real depende do seu perfil de consumo. Se você usa mais energia à noite, vai precisar de um sistema maior para compensar.

    Minha Experiência Real (Com Números Verdadeiros)

    Depois de toda essa pesquisa, decidi instalar. Mas fui com calma, sem pressa.

    Pedi orçamento para cinco empresas diferentes. As propostas variaram de R$ 24 mil até R$ 38 mil para um sistema parecido. Aprendi que preço baixo demais é cilada (equipamento ruim), mas preço alto demais também não garante qualidade.

    Escolhi uma empresa local com boas referências. Sistema de 5,2kW, 16 painéis, investimento total: R$ 29.500.

    A instalação foi mais tranquila do que esperava. Dois dias de trabalho: primeiro dia montaram a estrutura e colocaram os painéis, segundo dia fizeram as ligações elétricas e configuraram o sistema.

    O único perrengue foi a burocracia da companhia elétrica. Levou quatro meses para eles aprovarem a conexão. Quatro meses! Nesse tempo, o sistema ficava ligado mas não podia injetar energia na rede.

    Mas quando finalmente liberaram… cara, foi emocionante ver a primeira conta negativa.

    Os Primeiros Meses: Realidade vs Expectativa

    Vou ser honesto: os primeiros meses foram de ajuste. Tive que aprender a usar energia de forma mais inteligente.

    Antes, eu ligava a máquina de lavar à noite, depois do banho. Agora ligo de manhã, quando os painéis estão gerando. Máquina de lavar louça? Final da tarde, quando ainda tem sol mas o consumo da casa é baixo.

    Não é que você vira refém do sol, mas faz sentido usar mais energia quando ela tá sendo gerada gratuitamente.

    Nos três primeiros meses, minha conta variou entre R$ 45 e R$ 78. Bem longe dos R$ 450-650 que eu pagava antes, mas também não eram os R$ 30 que a empresa havia prometido.

    Liguei para o técnico. Ele veio, analisou o sistema, e descobriu que dois painéis estavam com sombreamento parcial no final da tarde. Problema: uma antena velha que eu nem usava mais.

    Tirei a antena. Mês seguinte: R$ 32.

    A Economia Real Depois de 18 Meses

    Agora que o sistema está funcionando há mais de um ano, posso dar números reais da economia.

    Média da conta antes: R$ 547 por mês Média da conta depois: R$ 41 por mês Economia mensal: R$ 506 Economia anual: R$ 6.072

    Em 18 meses economizei R$ 9.108. O sistema já se pagou? Não ainda. Mas está no caminho. Pelo meu cálculo, vai se pagar completamente em 4 anos e meio.

    E depois disso? Lucro líquido de mais de R$ 500 por mês pelos próximos 20 anos (garantia dos painéis).

    Os Benefícios Que Não Esperava

    Além da economia na conta, descobri vantagens que ninguém tinha me falado.

    A casa esquentou menos no verão. Os painéis no telhado funcionam como uma espécie de isolamento térmico. A temperatura interna ficou mais estável.

    Tenho um app no celular que mostra em tempo real quanto os painéis estão gerando. Virou quase um vício ficar olhando. Dia ensolarado = felicidade garantida.

    A valorização do imóvel foi maior do que esperava. Um corretor me disse que casas com energia solar estão sendo vendidas 10-15% mais caras que as similares sem sistema.

    E tem uma sensação boa, sabe? De estar contribuindo para um mundo mais limpo. Meu sistema evita a emissão de cerca de 3 toneladas de CO2 por ano. Não é muito, mas é alguma coisa.

    Os Problemas Que Enfrentei

    Nem tudo foram flores. Tive alguns aborrecimentos pelo caminho.

    Primeiro problema: pombos. Eles adoram fazer ninho embaixo dos painéis. Tive que instalar uma tela de proteção. Custo extra de R$ 800.

    Segundo: limpeza. Nos primeiros meses, achei que a chuva limparia os painéis naturalmente. Ledo engano. Poeira, folhas, cocô de passarinho… tudo diminui a eficiência. Agora pago R$ 120 a cada três meses para uma empresa especializada limpar.

    Terceiro: burocracia para trocar o relógio. A companhia elétrica demorou uma eternidade para trocar o medidor comum pelo bidirecional. Ligava toda semana cobrando.

    O Que Eu Faria Diferente

    Se fosse instalar de novo, algumas coisas eu mudaria.

    Primeiro: pesquisaria mais sobre a empresa instaladora. Não basta ser barato ou ter nome bonito. Precisa de referências sólidas e assistência técnica local.

    Segundo: instalaria um sistema um pouco maior. Meu consumo aumentou depois da energia solar (ué, ficou barato, né?). Se tivesse previsto isso, teria dimensionado melhor.

    Terceiro: negociaria melhor o prazo de pagamento. Parcelei em 24 vezes sem juros, mas depois descobri que algumas empresas oferecem até 60 vezes com juros baixos.

    A Verdade Sobre o Retorno do Investimento

    Muita gente pergunta se “vale a pena”. A resposta depende de algumas variáveis.

    Se sua conta de energia é baixa (menos de R$ 200), pode não compensar. O tempo de retorno fica muito longo.

    Se você pretende sair da casa em poucos anos, também pode não fazer sentido financeiramente. Apesar de valorizar o imóvel, você não vai aproveitar toda a economia.

    Mas se sua conta é alta e você pretende ficar na casa por alguns anos, é quase certeza que vale a pena. Os números não mentem.

    No meu caso específico: investimento de R$ 29.500, economia anual de R$ 6.072. Retorno em 4,8 anos. Depois disso, são 20+ anos de energia praticamente gratuita.

    Dicas Para Quem Está Pensando em Instalar

    Se você chegou até aqui, provavelmente está considerando seriamente a energia solar. Algumas dicas de quem já passou por isso:

    Peça orçamento para pelo menos três empresas diferentes. Os preços e equipamentos variam muito.

    Desconfie de propostas muito baratas ou muito caras. O meio termo geralmente é o melhor negócio.

    Exija visita técnica antes do orçamento. Empresa séria sempre vai no local para avaliar telhado, sombreamento, padrão de energia.

    Pesquise a reputação da empresa. Energia solar é investimento de longo prazo. Você vai precisar de assistência técnica pelos próximos 25 anos.

    Não caia na conversa de “promoção imperdível que acaba amanhã”. Energia solar não é produto de liquidação.

    Por Que Eu Recomendo (Mas Não Para Todo Mundo)

    Depois de toda essa experiência, eu recomendo energia solar? Sim, mas com ressalvas.

    Se você tem uma conta de energia alta, telhado em boas condições, boa exposição solar e condições de fazer o investimento inicial, vai economizar dinheiro no longo prazo. Isso é fato.

    Mas não espere milagres. Não é investimento que vai te enriquecer da noite para o dia. É economia gradual e constante.

    E tem uma coisa: depois que você vê que é possível gerar sua própria energia em casa, sua cabeça muda. Você começa a pensar em outras formas de ser mais independente energeticamente.

    Hoje estou estudando aquecimento solar para água e bateria para armazenar energia. Quem sabe em alguns anos eu não vire um desses caras completamente off-grid?

    Uma coisa é certa: nunca mais vou reclamar de conta de energia alta sem pelo menos considerar as alternativas disponíveis.