Preciso começar admitindo que quando comecei essa reforma, valorização imobiliária era a última coisa na minha cabeça. Queria mesmo era diminuir essas contas malucas que chegavam todo mês.
Mas aconteceu uma coincidência interessante há três semanas. Um corretor bateu na minha porta perguntando se eu tinha interesse em vender. “Tenho um cliente procurando uma casa exatamente como a sua nesta região”, ele disse.
Falei que não estava vendendo, mas fiquei curioso. “Quanto você acha que vale?”
A resposta me deixou meio atordoado. R$ 650 mil. Comprei essa casa por R$ 420 mil há quatro anos. Mesmo considerando a valorização normal do mercado, alguma coisa não batia.
“É por causa da sustentabilidade”, explicou o corretor. “Casas eco-friendly estão sendo disputadas a tapa aqui na região.”
Foi aí que comecei a entender o que havia acontecido sem eu perceber.
A Reforma Que Virou Investimento Sem Querer
Tudo começou com uma necessidade básica: as contas estavam me matando. Energia R$ 780, água R$ 220, gás R$ 95. Quase mil reais só de utilidades todos os meses. Para uma família com dois filhos pequenos, isso doía no bolso.
Minha esposa trabalhava meio período para cuidar das crianças, então o orçamento estava sempre apertado. “A gente precisa fazer alguma coisa”, ela disse depois de ver a conta de energia de janeiro. “Do jeito que tá, vamos ter que escolher entre pagar conta de luz ou comprar roupa para os meninos.”
Comecei a pesquisar soluções. Primeiro pensei em trocar só os equipamentos – geladeira mais eficiente, chuveiro diferente, essas coisas. Mas um amigo arquiteto me deu uma ideia diferente.
“Mano, em vez de ir trocando coisa aos poucos, por que você não faz uma reforma pensando em eficiência? Sai mais barato no final e resolve tudo de uma vez.”
A princípio achei loucura. Reforma grande com dinheiro contado? Mas ele insistiu: “Você vai gastar mesmo reformando aos poucos. Melhor fazer direito de uma vez.”
O Plano Que Mudou Tudo
Conversamos bastante e ele me mostrou algumas possibilidades. Não era sobre luxo ou frescura ecológica. Era matemática pura: investir X para economizar Y todo mês pelos próximos 20 anos.
O plano dele era assim: isolamento térmico completo, troca de todas as janelas, sistema de energia solar, aquecimento solar para água, captação de água da chuva e algumas mudanças no paisagismo para melhorar a ventilação natural.
Orçamento total: R$ 95 mil. Parecia uma fortuna na época.
Mas quando ele fez as contas da economia mensal – cerca de R$ 650 de redução nas contas – o negócio começou a fazer sentido. Em 12 anos o investimento se pagaria. E eu pretendo ficar nessa casa pelo menos uns 15 anos.
Decidimos parcelar em 48 vezes e começar a reforma. O que não imaginávamos é que isso mudaria completamente o valor do imóvel.
Os Primeiros Sinais de Que Algo Estava Diferente
A reforma demorou quatro meses para ficar pronta. Durante esse tempo, já comecei a perceber que estava acontecendo algo inusitado.
Primeiro, os vizinhos ficaram curiosos. Todo dia alguém parava para perguntar o que estava sendo feito. “Que painéis são esses?”, “Para que serve aquele reservatório?”, “Por que trocaram todas as janelas?”
Segundo, alguns amigos começaram a pedir para visitar depois que ficasse pronto. “Quero ver como ficou essa casa sustentável”, diziam. Como se fosse algum tipo de atração.
Terceiro, operários de outras obras na rua vinham dar uma espiada. “Nunca vi uma casa ser reformada assim”, comentou um pedreiro que estava construindo uma casa três quarteirões abaixo.
Quando tudo ficou pronto, organizei um churrasco para mostrar para a família e amigos próximos. A reação foi muito além do que esperava.
A Reação das Pessoas (Que Me Surpreendeu)
Lembro da cara do meu cunhado quando mostrei o sistema de energia solar funcionando no aplicativo do celular. “Cara, isso aqui tá gerando 4,2 kW agora de manhã. À tarde chega a 6 kW.”
“E quanto você economiza por mês?”, ele perguntou.
“A conta que era R$ 780 virou R$ 85.”
Ele ficou uns cinco minutos em silêncio, fazendo contas na cabeça. “Isso dá mais de R$ 8 mil por ano de economia.”
Meu sogro, que é contador aposentado, ficou impressionado com o sistema de reuso de água. “Vocês estão usando água da chuva para descarga e para regar o jardim? Genial!”
Mas quem mais me surpreendeu foi minha vizinha, a dona Tereza. Ela tem 70 anos e sempre foi meio cética com “essas modernidades”. Veio conhecer por educação e saiu pedindo o contato do arquiteto.
“Meu filho, minha conta de luz veio R$ 890 mês passado. Preciso fazer alguma coisa antes que eu vire mendiga.”
O Interesse Inesperado do Mercado
Depois do churrasco, começaram a aparecer pessoas interessadas na casa. Não que estivesse à venda, mas parece que na vizinhança se espalhou que tinha uma “casa ecológica” diferente.
Primeiro foi um corretor que representava um casal de dentistas. Eles estavam procurando casa na região e alguém comentou sobre a minha. “Posso dar uma olhada? É só para ter uma referência do que existe no mercado.”
Mostrei a casa por educação. O corretor ficou impressionado e disse que casas assim estavam sendo muito procuradas. “Tem uma demanda reprimida de pessoas que querem economizar nas contas mensais.”
Duas semanas depois, outro corretor. Dessa vez representando um engenheiro que estava se mudando de São Paulo. Mesma história: alguém falou que tinha uma casa sustentável interessante na região.
No terceiro corretor, comecei a ficar curioso. “Por que tanta gente está procurando especificamente casa sustentável?”
A resposta me abriu os olhos: “O pessoal está fazendo as contas. Casa com conta de energia baixa é como se fosse um salário a mais todo mês.”
A Avaliação Que Me Deixou Sem Palavras
Resolvi fazer uma avaliação oficial para saber quanto a casa realmente valia. Chamei três corretores diferentes para dar suas opiniões.
Primeiro corretor: R$ 620 mil. “Casa em excelente estado, reformada recentemente, com diferenciais sustentáveis.”
Segundo corretor: R$ 640 mil. “Imóvel premium na região, com tecnologias que agregam muito valor.”
Terceiro corretor: R$ 665 mil. “Casa única na região. O mercado está pagando muito bem por imóveis eficientes.”
Média: R$ 641 mil. Comprei por R$ 420 mil há quatro anos. Valorização de R$ 221 mil.
Só que aí veio a pergunta óbvia: quanto dessa valorização era pela reforma sustentável e quanto era valorização natural do mercado?
A Comparação Que Esclareceu Tudo
Pedi para os corretores avaliarem também a casa do meu vizinho da frente. Casa similar à minha, mesmo tamanho, mesmo padrão, mas sem as modificações sustentáveis.
Avaliação da casa do vizinho: R$ 540-560 mil. Avaliação da minha casa: R$ 620-665 mil.
Diferença: R$ 80-105 mil.
Ou seja, a reforma sustentável que custou R$ 95 mil agregou pelo menos R$ 80 mil ao valor do imóvel. Quase se pagou só na valorização, sem contar a economia mensal.
O Que Realmente Agrega Valor (Descobertas Importantes)
Conversei bastante com os corretores para entender o que mais chamava atenção dos compradores interessados.
Energia solar estava no topo da lista. “Pessoa compra a casa sabendo que vai economizar R$ 600-700 por mês. É como se fosse uma renda extra”, explicou um dos corretores.
Segundo item mais valorizado: o isolamento térmico. “Casa que mantém temperatura agradável sem gastar muito com ar-condicionado é ouro hoje em dia.”
Terceiro: sistema de água da chuva. “Pessoal está preocupado com sustentabilidade, mas também com economia. Reduzir conta de água em 40% impressiona qualquer comprador.”
Quarto: as janelas eficientes. “Faz diferença no conforto térmico e acústico. Quem mora em rua movimentada valoriza muito isso.”
Quinto: o paisagismo funcional. “Horta produtiva e jardim que ajuda na climatização natural são diferenciais únicos.”
Os Compradores Que Mais Se Interessaram
O perfil dos interessados também me chamou atenção. Não eram necessariamente pessoas “ecológicas” ou com renda muito alta.
Primeiro perfil: casais jovens com filhos pequenos. “Querem economizar nas contas para sobrar dinheiro para outras coisas.”
Segundo perfil: pessoas próximas da aposentadoria. “Preocupadas com redução de renda futura, querem diminuir gastos fixos.”
Terceiro perfil: profissionais que trabalham em casa. “Precisam de conforto térmico e baixo custo de energia por ficar muito tempo em casa.”
Quarto perfil: investidores. “Compram para alugar por valor mais alto, já que podem oferecer ‘aluguel com contas baixas’.”
O Que Não Deu Tão Certo (Para Ser Honesto)
Nem tudo foi perfeito na reforma. Alguns itens não agregaram tanto valor quanto esperava.
O sistema de compostagem, por exemplo. Custou R$ 3.200 e funciona bem, mas nenhum comprador demonstrou interesse específico. “É legal, mas não é decisivo na compra”, disse um corretor.
As torneiras sensor também não impressionaram. R$ 1.800 investidos em automação que o pessoal achou “frescura desnecessária”.
A pintura com tinta especial anti-mofo custou 60% mais caro que tinta comum, mas visualmente não faz diferença. Comprador não consegue “ver” o benefício.
A Conta Final (Que Me Surpreendeu Positivamente)
Vamos aos números finais, dois anos depois da reforma:
Investimento na reforma sustentável: R$ 95.000 Valorização adicional do imóvel: R$ 85.000 (sendo conservador) Economia mensal nas contas: R$ 647 Economia acumulada em 24 meses: R$ 15.528
Total de “retorno” até agora: R$ 100.528
Ou seja, o investimento já se pagou em valorização + economia. Daqui para frente, os R$ 647 de economia mensal são lucro líquido.
Por Que Isso Aconteceu (Minha Teoria)
Conversando com muita gente do mercado imobiliário, cheguei a algumas conclusões sobre por que casas sustentáveis estão se valorizando tanto.
Primeiro: as contas de energia e água só sobem. Pessoa que compra casa sustentável está “se protegendo” de aumentos futuros.
Segundo: financeiramente faz sentido. É melhor pagar R$ 100 mil a mais na casa e economizar R$ 650 por mês do que pagar menos na casa e desembolsar esse dinheiro todo mês.
Terceiro: conforto virou prioridade. Depois da pandemia, pessoal quer casa confortável, já que passa mais tempo em casa.
Quarto: status social. Casa sustentável virou símbolo de consciência e inteligência financeira.
O Que Eu Faria Diferente Hoje
Se fosse fazer a reforma de novo, mudaria algumas coisas:
Investiria mais em automação residencial. Sensores de presença, controle inteligente de temperatura, programação automática de equipamentos. O mercado está valorizando muito isso.
Faria um sistema de energia solar maior. O que instalei atende bem nossa família, mas um sistema que gere excesso de energia (para vender de volta para a concessionária) agregaria ainda mais valor.
Incluiria ponto para carregamento de carro elétrico. Ainda não tenho carro elétrico, mas vários compradores perguntaram sobre isso.
Investiria em paisagismo produtivo mais elaborado. Horta vertical, pomar urbano, jardim aromático. Pessoal está valorizando muito a possibilidade de produzir comida em casa.
A Lição Que Aprendi
A grande lição de toda essa experiência é que reforma sustentável não é gasto – é investimento. E investimento que dá retorno de várias formas diferentes.
Economiza dinheiro todo mês (isso eu esperava). Valoriza o imóvel (isso me surpreendeu). Melhora qualidade de vida (bônus inesperado). E ainda dá uma sensação boa de estar fazendo a coisa certa pelo meio ambiente.
Se você está pensando em reformar, sugiro considerar seriamente os aspectos sustentáveis. Não precisa ser nada radical ou muito caro. Às vezes pequenas mudanças já fazem grande diferença.
Mas se tiver condições de fazer uma reforma mais completa, como eu fiz, a chance de se arrepender é próxima de zero. Só tenho um arrependimento: não ter feito antes.
Ah, e se algum dia eu resolver vender mesmo essa casa, já sei que vai ser fácil. Tenho três corretores na minha agenda esperando eu dar sinal verde.