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    Semana passada aconteceu algo que ainda me deixa meio incrédulo. Recebi um depósito de R$ 347 da companhia elétrica. Isso mesmo, eles me pagaram.

    Não foi erro no sistema nem restituição de taxa. Foi porque minha casa gerou mais energia do que consumiu no mês anterior e o excesso foi “vendido” de volta para a rede elétrica.

    Cinco anos atrás, se alguém me dissesse que minha casa ia gerar dinheiro, eu ia rir da cara da pessoa. Hoje estou aqui, digitando este texto numa casa que praticamente se sustenta sozinha e ainda sobra uns trocados.

    Como chegamos nesse ponto? Longa história, mas vale a pena contar.

    O Começo: Fugindo das Contas Assassinas

    Em 2019, eu estava literalmente desesperado com os custos da casa. Energia elétrica: R$ 850 por mês. Água: R$ 340. Gás: R$ 120. Total: R$ 1.310 só de utilidades básicas.

    Para uma família que ganhava R$ 8.500 líquidos na época, isso representava mais de 15% da renda. Era insustentável.

    Minha esposa trabalhava como freelancer e a renda dela variava muito. Nos meses ruins, as contas de casa comiam praticamente todo meu salário. Sobrava pouco para outras necessidades.

    “A gente precisa fazer alguma coisa”, ela disse depois de receber uma conta de luz de R$ 967 em janeiro. “Ou diminui essas contas ou vamos ter que mudar nosso padrão de vida.”

    Comecei a pesquisar soluções. Primeiro pensei em mudança drástica: apartamento menor, menos conforto, economia forçada. Mas um amigo engenheiro me deu uma perspectiva diferente.

    “Por que não investe em tornar a casa eficiente em vez de diminuir seu padrão de vida?”

    A Pesquisa Que Mudou Tudo

    Passei dois meses estudando possibilidades. YouTube, fóruns, conversas com técnicos, visitas a casas que já tinham sistemas sustentáveis.

    Descobri que era possível, sim, reduzir drasticamente os custos mensais. Mas exigia investimento inicial significativo.

    A conta que fiz na época:

    • Sistema de energia solar: R$ 45.000
    • Aquecimento solar de água: R$ 8.500
    • Sistema de captação de chuva: R$ 12.000
    • Horta vertical automatizada: R$ 6.500
    • Total: R$ 72.000

    Setenta e dois mil reais. Era quase seis vezes minha renda mensal na época. Parecia impossível.

    Mas quando calculei o retorno mensal…

    Os Números Que Me Convenceram

    Economia mensal projetada:

    • Energia elétrica: R$ 780 (de R$ 850 para R$ 70)
    • Água: R$ 180 (de R$ 340 para R$ 160)
    • Gás: R$ 90 (de R$ 120 para R$ 30)
    • Alimentos da horta: R$ 200
    • Total mensal: R$ 1.250

    Anual: R$ 15.000 de economia.

    Tempo para recuperar investimento: 4,8 anos.

    Depois disso, seriam 15-20 anos de economia líquida. Mais de R$ 200 mil economizados no longo prazo.

    Matematicamente, não investir é que seria burrice.

    O Financiamento (Que Quase Desistimos)

    O maior problema era conseguir R$ 72 mil de uma vez. Minha reserva de emergência tinha R$ 18 mil. Precisava financiar o resto.

    Banco tradicional? Nem pensar. “Reforma não é garantia suficiente para empréstimo desse valor”, disse o gerente.

    Tentei financiamento específico para energia solar. Aprovaram R$ 45 mil com taxa de 1,8% ao mês. Juros altos, mas prazo longo: 60 meses.

    Para o restante, usei limite do cartão de crédito parcelado em 24 vezes. Não era ideal, mas foi o que consegui.

    Decisão tomada: vamos transformar esta casa numa máquina de economia.

    A Instalação (4 Meses de Obras)

    A reforma começou em março de 2020. Timing terrível – pandemia começando, incertezas econômicas, todo mundo em casa.

    Mas continuamos. Na verdade, ficar em casa durante a pandemia me fez acompanhar cada detalhe da instalação.

    Energia solar: 20 painéis de 400W cada, totalizando 8kW de potência. Instalação no telhado demorou 3 dias.

    Aquecimento solar: Coletores solares para água do banho. Reduz 80% do gasto com chuveiro elétrico.

    Captação de chuva: Cisterna de 8 mil litros enterrada no quintal. Calhas especiais direcionam água do telhado.

    Horta vertical: Sistema hidropônico automatizado na área de serviço. Produz verduras o ano todo.

    Em julho estava tudo funcionando.

    Os Primeiros Resultados (Que Me Surpreenderam)

    Primeira conta de energia após instalação: R$ 89. Tinha previsto R$ 70, então estava dentro do esperado.

    Segunda conta: R$ 34. Melhor que previsto.

    Terceira conta: R$ 15. Muito melhor que previsto.

    A partir do quarto mês, começaram a aparecer contas negativas. Ou seja, eu estava gerando mais energia do que consumia.

    A economia de água também superou expectativas. De R$ 340 mensais, caiu para R$ 95-120.

    Gás praticamente zerou. Só uso para fogão mesmo, já que a água é aquecida pelo sol.

    Mas a maior surpresa foi a horta.

    A Horta Que Virou Negócio

    Projetei a horta vertical para produzir verduras para consumo familiar. Calculei R$ 200 mensais de economia.

    Nos primeiros meses, realmente produzia só para casa. Alface, rúcula, manjericão, cebolinha, algumas hortaliças básicas.

    Mas o sistema funcionou tão bem que começou a sobrar produção. Muita produção.

    “O que vamos fazer com tanta verdura?”, minha esposa perguntou quando a geladeira ficou lotada.

    Primeira solução: dar para vizinhos e amigos. Todo mundo ficou impressionado com a qualidade. “Essa rúcula tem sabor completamente diferente”, comentaram.

    Segunda solução: vender o excesso.

    Comecei oferecendo para colegas de trabalho. Rapidamente formou-se uma lista de clientes regulares. R$ 180 por mês vendendo verduras para conhecidos.

    Hoje, dois anos depois, tenho 15 clientes fixos e vendo cerca de R$ 400 mensais em verduras orgânicas.

    O Momento da Virada (Casa Gerando Renda)

    O ponto de inflexão veio no início de 2022. Instalei mais 4 painéis solares (expansão do sistema) e a produção de energia ficou consistentemente acima do consumo.

    Março de 2022: primeira vez que recebi dinheiro da companhia elétrica. R$ 87.

    A partir daí, tornou-se rotina. Todo mês sobra energia e vira crédito monetário.

    Média mensal que recebo da elétrica: R$ 280. Renda da horta: R$ 400. Total mensal que a casa “gera”: R$ 680.

    Somando com a economia nas contas (que antes custavam R$ 1.310), estou R$ 1.990 melhor por mês.

    Quase R$ 24 mil por ano.

    A Conta Final Depois de 4 Anos

    Vou abrir os números reais de 2019 até hoje:

    Investimento total: R$ 72.000 (inicial) + R$ 18.000 (expansões) = R$ 90.000

    Economia + Renda acumulada:

    • 2020 (9 meses): R$ 11.250
    • 2021: R$ 18.600
    • 2022: R$ 21.400
    • 2023: R$ 23.800
    • 2024 (até agora): R$ 19.200
    • Total: R$ 94.250

    O investimento não só se pagou como já deu R$ 4.250 de lucro líquido.

    E estamos só no começo. Os próximos 15 anos serão de ganho puro.

    As Mudanças de Comportamento

    Uma coisa interessante que aconteceu foi a mudança na nossa relação com consumo.

    Antes, prestávamos atenção em cada kWh gasto, cada gota d’água desperdiçada. Era estresse constante.

    Hoje, uso energia e água sem paranoia. Não porque estou desperdiçando, mas porque sei que minha produção comporta meu consumo.

    Quer tomar banho mais longo? Sem problema, a água é aquecida pelo sol.

    Quer deixar o ar-condicionado ligado? Tranquilo, a energia vem dos painéis.

    Liberdade financeira dá liberdade psicológica também.

    Os Vizinhos (Que Viraram Clientes)

    A transformação da minha casa chamou atenção da vizinhança. Primeiro pela curiosidade, depois pelo interesse prático.

    Dona Maria, que mora ao lado, foi minha primeira cliente da horta. “Essas verduras são muito melhores que do supermercado”, ela disse.

    Seu João, da casa da frente, instalou energia solar depois de ver meus resultados. “Se funciona para você, vai funcionar para mim também.”

    Três vizinhos já instalaram sistemas similares. Formamos um pequeno grupo informal de troca de experiências.

    A rua está virando referência em sustentabilidade na região.

    Os Desafios Que Ainda Enfrento

    Nem tudo são flores. Ainda tenho alguns perrengues:

    Manutenção: Painéis precisam de limpeza regular. Bombas d’água requerem revisão. Horta precisa cuidado diário.

    Burocracia: Renovação de licenças, ajustes na documentação da energia solar, regulamentações que mudam.

    Sazonalidade: No inverno, produção de energia e horta diminuem. Preciso gerir bem os créditos energéticos.

    Investimento contínuo: Equipamentos têm vida útil. Em alguns anos, precisarei trocar inversores, bombas, algumas placas.

    Mas são problemas “de rico”. Problemas de quem tem sistema funcionando, não de quem está quebrando com contas mensais.

    O Conselho Que Dou

    Se você está pensando em seguir caminho similar, algumas dicas:

    Comece gradual: Não precisa fazer tudo de uma vez como eu fiz. Energia solar primeiro, depois outras tecnologias.

    Pesquise bem: Empresas idôneas, equipamentos de qualidade, garantias robustas. Você vai depender disso por décadas.

    Calcule direito: Faça simulações realistas. Não se baseie só na propaganda das empresas.

    Pense longo prazo: Investimento se paga em 4-6 anos, mas benefício dura 20-25 anos.

    Prepare-se para mudanças: Sua relação com energia, água e consumo vai mudar. Para melhor.

    O Futuro (Que Está Chegando Rápido)

    Estou planejando mais algumas expansões:

    Bateria para armazenamento: Para ter energia à noite mesmo durante apagões.

    Carro elétrico: Para usar a energia excedente como “combustível”.

    Aquaponia: Criação de peixes integrada à horta. Proteína própria.

    Sistema de compostagem: Transformar lixo orgânico em adubo.

    Objetivo: tornar a casa 100% autossuficiente. Comida, energia, água, tudo produzido aqui.

    Parece utopia? Cinco anos atrás eu também achava.

    A Transformação Que Não Tem Preço

    Além dos benefícios financeiros óbvios, tem uma satisfação pessoal difícil de explicar.

    Saber que sua casa não depende de terceiros. Que você está preparado para crises energéticas, aumentos de tarifa, racionamentos.

    Ver seus filhos crescendo conscientes sobre sustentabilidade, entendendo de onde vem energia e comida.

    Ser referência positiva na comunidade, inspirando outros a seguir caminho similar.

    Dormir tranquilo sabendo que suas contas mensais estão sob controle pelos próximos 20 anos.

    Isso não tem preço. Mas curiosamente, também economiza dinheiro.

    Se você tem condições de fazer o investimento inicial, recomendo fortemente. Sua vida financeira e sua tranquilidade mental vão agradecer.

    E quem sabe, daqui alguns anos, você também não esteja recebendo depósito da companhia elétrica.